Chegou finalmente a hora de revelar e viajarmos para o nosso próximo destino!
O mês que passámos no Valle Libera e a semana em Piemonte serviu para percebermos o que queremos e não queremos fazer nos próximos tempos. Foi útil para descobrirmos com o que é que nos sentimos mais confortáveis. Este tipo de viagens longe de casa trazem as suas dificuldades óbvias. Não foi ao acaso que decidimos começar esta sabática em Itália. Sendo um país no centro da Europa e que já tínhamos visitado e adorado, foi uma escolha que evitava colocar-nos a nós próprios numa situação demasiado fora do nosso controlo e zona de conforto. No entanto, uma parte dos nossos receios foram desaparecendo com as últimas experiências e apercebemo-nos que estávamos prontos a arriscar um pouco mais.
A verdade é que não haverão muitos momentos na vida como estes. Temos a possibilidade de viajar para os lugares que sempre desejámos e conhecê-los. Tudo isto sem a urgência inerente dos dias de férias limitados que normalmente temos no nosso trabalho. Chegámos a esta conclusão ainda em Umbria e perguntámo-nos a nós próprios “porque não a Islândia?”. É um país que já estava no nosso radar há anos mas que nunca tivemos a oportunidade de considerá-lo para as nossas férias. A pergunta era fácil de responder mas juntamente com ela, levantavam-se muitas outras relacionadas com a logística necessária para a viagem.
No entanto, a descoberta da existência de um ferry a partir da Dinamarca respondeu a grande parte das nossas questões. Pagámos cerca de 1000€ pela viagem de ida (e futura viagem de volta) para nós os dois e um carro português bem carregado. Sim, quando soubemos que iríamos para um país tão caro como a Islândia, preocupámo-nos em carregar o carro com muitaaaa mercadoria. Somos capazes de ter massa, enlatados, snacks e bebidas para quase um ano de viagem! Sabemos que quem já planeou ou tentou planear uma viagem a este país incrível concordará que o preço que pagámos por esta viagem fica abaixo do valor que pagaríamos, por exemplo, pelos voos e aluguer de carro.
Após uma videochamada informal bem-sucedida com um casal anfitrião islandês, os nossos olhos até brilhavam com a confirmação de que iríamos para um dos nossos destinos de sonho. O pulso partido quase que acabou com esta possibilidade. Felizmente, os nossos futuros anfitriões não levantaram qualquer problema!
O nosso ferry seria o primeiro do ano a fazer a rota de Hirtshals (a norte da Dinamarca) até Seyðisfjörður (a este da Islândia), com uma pequena paragem em Tórshavn (capital das Ilhas Faroé). A viagem, de quase 3 dias de duração, estava marcada para dia 16 de Março. No entanto, ainda antes disso, tínhamos um percurso de 13 horas de carro para fazer desde Estugarda. Mais uma vez, teríamos a Mar a conduzir uma longa distância e o Ricardo a cumprir o seu papel de “passageiro príncipe”. A grande maioria da viagem (10 horas) foi feita no dia 15. Fizemos (a Mar fez) a proeza de completar quase na totalidade a Bundesautobahn 7. Esta é, nem mais nem menos, a maior autoestrada nacional da Europa (963 km) que bisseta toda a Alemanha, de sul a norte.
Passámos a noite já na Dinamarca, numa cidade próxima da autoestrada, chamada Haderslev. Era aqui que ficava o alojamento de AirBnB que tínhamos reservado – um pequeno anexo por 50€. Não podíamos ter ficado mais satisfeitos com esta escolha. Era um espaço super confortável e foi-nos deixada uma garrafa de vinho, chocolates, snacks e um frigorífico cheio de comida! Há pessoas que realmente têm gosto em gerir este tipo de negócios.
No dia seguinte, ainda restava percorrer a distância até ao norte da Dinamarca, que demoraria cerca de 3 horas. Ao meio-dia chegámos ao porto de Hirtshals, 3 horas antes da partida do ferry. Dado o mau tempo que estava, passámos esse tempo na fila de carros para fazer o check-in.
Quem está atento ao blog sabe que este é o segundo ferry em que viajamos nesta jornada. Se as instalações do primeiro já nos tinham surpreendido, o MS Norröna deixou-nos boquiabertos. Sendo uma embarcação de 165 metros com capacidade para 1500 passageiros, 800 carros e 120 membros da tripulação, só o tamanho é impressionante. O interior também é espetacular. Distribuídos pelos 10 andares, encontram-se vários restaurantes, jacuzzis exteriores, um cinema, um ginásio, uma piscina, uma biblioteca, um heliporto, uma loja “duty free” e muitas outras instalações. Todas elas com um aspecto tão limpo e moderno que é difícil acreditar que o navio tem mais de 20 anos (foi construído em 2003).
Tínhamos todas as condições para fazer uma viagem bastante confortável. Até a nossa cabine, que era a mais barata de todas (sem contar com os dormitórios partilhados), era melhor que muitos dos quartos de hotel onde já dormimos. O único aspeto negativo da viagem acabou por ser a turbulência que apanhámos… Para quem sofre de enjoos no mar, foi um pesadelo que minimizámos com alguns comprimidos e simplesmente tentando adormecer. Quando a ondulação acalmava, distraíamo-nos a jogar jogos de tabuleiro ou escrever no blog, por exemplo. No entanto, a maior parte do tempo foi passada a ver televisão na nossa cabine apesar de não haver muitos canais em inglês. Um deles era o National Geographic que foi o nosso melhor entretenimento. O outro foi a Sky News que, por exemplo, nos informou que iríamos chegar à Islândia com um vulcão em plena atividade. Não deixa de ser engraçado como soubemos desta noticia no meio do oceano e da nossa viagem.
Também devem estar curiosos em como é que poupámos na comida… Visto que cada refeição a bordo não ficaria a menos de 30€ por pessoa, tivemos de arranjar uma alternativa. A solução que encontrámos foi comprar uma chaleira elétrica portátil que nos permitiu alimentar de massas instantâneas nestes dias. No final, nem as nossas barrigas nem as nossas carteiras se arrependeram desta decisão.
O ponto alto da viagem acabou por ser as 4 horas em que pudemos explorar a capital das Ilhas Faroé – Tórshavn. Este é um país que partilha de algumas semelhanças com a Islândia, em particular o facto de ser uma parte remota da Europa e de possuir uma natureza incrível. Na verdade, visitar este arquipélago também já era um desejo longínquo. Nós queríamos ter encaixado uma estadia mais duradoura aqui mas não nos foi possível… Tivemos de nos contentar com estas poucas horas nesta pequenina cidade. A manhã começou chuvosa mas rapidamente mudou para um dia de céu limpo que nos permitiu passear e sentir um pouco o dia-a-dia de Tórshavn. Podem ter a certeza que ficámos com vontade de voltar e explorar as outras ilhas!
De volta ao barco, preparámo-nos para dormir a nossa última noite a bordo antes de chegar à Islândia.
Até lá!
Ricardo e Mar